e-revista Brasil Energia 486

46 Brasil Energia, nº 486, 19 de abril de 2024 Continuação Bruno Armsbrust exemplo, podemos citar a indústria automobilística, onde o custo do biometano teria efeito marginal, mas um grande valor como apelo ambiental. Já em outros segmentos, como o ceramista, vidreiro ou cimenteiro, onde o custo do GN atual já é caro, o acréscimo do biometano poderá ter impacto relevante e poderá pesar na sustentabilidade desses setores. Apesar desse aspecto do maior custo do biometano, o Brasil pode se beneficiar, aproveitando as oportunidades de negócio que a Europa vai gerar, sem acompanhar o ritmo frenético de descarbonização dos europeus. Estamos falando de uma diferença sutil, mas importante se bem compreendida. A título de exemplo, neste momento, parte da produção de biometano da Espanha está sendo adquirida por clientes alemães devido à existência de um mercado de “garantias de origem” e “certificados”. O cliente alemão adquire a garantia de origem renovável e, embora esse gás esteja sendo consumido no país de origem, ele exibe um certificado de que seu consumo é verde. Já o consumidor espanhol consome o biometano, mas ele não se beneficia do atributo verde do gás porque esse atributo foi adquirido pelo consumidor alemão. Ou seja, há oportunidade para que algum consumidor europeu compre o atributo verde do biometano produzido aqui. Assim, uma melhor solução poderia passar não pela obrigação de aquisição do biometano do lado da oferta, mas por incentivos do lado da demanda, onde uma correta certificação de origem e sua fácil utilização poderiam servir como contrapartida que compense o maior custo do biometano. Um ponto essencial em todo esse esquema será a unificação dos sistemas de informação para registrar toda a movimentação de gás e evitar que a contabilização do gás renovável seja duplicada ou triplicada. Para dar uma ideia da dimensão econômica desse negócio, alguns contratos entre clientes alemães e promotores espanhóis de biometano estão sendo negociados a preços superiores a seu custo, podendo chegar a mais de US$ 40/ MMBtu. Esses níveis de preços não deverão ser sustentáveis no longo prazo. Então as oportunidades surgem no curto e médio prazo e se aproveitadas não afetam de forma significativa o preço do gás natural por aqui. O biometano já é uma realidade no Brasil e seus benefícios são claros. É certo que os reguladores, seja a ANP ou as agências estaduais, precisam introduzir estímulos para integrar o biometano à malha de gasodutos, permitindo chegar a todos os usuários de gás, de forma gradual, sem impor ônus excessivo ao consumidor final. Estariam os consumidores dispostos a pagar mais pelo biometano? Conceder incentivos ao aumento da oferta de biometano trará benefícios a todos, mas as políticas precisam considerar o importante papel do gás natural na transição energética e no desenvolvimento econômico do país. Dessa forma, os incentivos ao biometano poderiam ser melhor aproveitados em projetos e indústrias onde seu valor energético e atributos tem maior impacto e importância. O incentivo ao uso de gases renováveis poderia ser introduzido em linha com o conceito de feed-in-tariff (FIT), mecanismo utilizado por políticas públicas destinadas a acelerar o investimento em tecnologias de energias renováveis, por meio de oferta de contratos de longo prazo que ajudem a financiar os investimentos incluindo uma condição decrescente dos preços. No Brasil, o biometano deveria ser enfocado como oportunidade. O Brasil tem uma matriz limpa em relação a grande maioria dos países e não precisa embarcar nessa corrida desenfreada e nessa busca frenética de tornar a economia totalmente descarbonizada. Não podemos perder de vista que o desejado processo de reindustrialização do país vai exigir um gás natural competitivo e o biometano precisa ser introduzido na matriz considerando esse objetivo maior.sumidor final. É importante que a introdução de estímulos ao biometano seja feita de forma planejada, observando a regulação nos estados.

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