52 Brasil Energia, nº 486, 19 de abril de 2024 Continuação Marcus D’Elia rios reduz o custo logístico para entrega do produto, facilitando a implementação de soluções como dutos específicos para conexão das unidades de produção até pontos de consumo. Mesmo que a opção seja pelo transporte do biometano através de veículos pressurizados (GNC), a possibilidade do uso de ciclos fechados de suprimento em curtas distâncias simplifica a logística para o consumidor. Em grandes centros estes consumidores podem ser representados por indústrias, revendas de GNV, hubs para conexão em redes de distribuição de gás natural. Resíduos Sucroenergéticos Os insumos para produção de biometano a partir de resíduos sucroenergéticos são originados nas usinas de produção de açúcar e etanol. As usinas que representam cerca de 76% da produção de etanol de cana no país em 2023 estão presentes nos estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e indicam uma forte concentração no interior do país. Dada a geração própria dos resíduos a serem utilizados para produção de biometano, é natural que as unidades de produção estejam próximas às usinas. Na produção de biometano, a partir destes resíduos, pode-se diferenciar dois casos: usinas no estado de São Paulo e usinas localizadas em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. No primeiro caso, em São Paulo há uma grande densidade de usinas, o que permite que uma mesma unidade de produção de biometano seja compartilhada por diferentes usinas, aumentando a escala e reduzindo custos de produção. Além disso, a produção de biometano nesta região pode ser privilegiada pelos mesmos fatores observados na produção a partir de aterros sanitários: possibilidade do consumo local do biometano para suprimento à indústria e transporte, e a facilidade de utilização dos modais de transporte dutoviário e rodoviário em curta distância. A proximidade de pontos de consumo e da rede de gasodutos são fatores que beneficiam fortemente a produção no Estado. No segundo caso, usinas localizadas nos estados do Centro-Oeste, o principal fator que beneficia a produção de biometano é a possibilidade de utilizar a escala das grandes usinas de açúcar e etanol para permitir menores custos de produção. No entanto, em relação ao consumo e logística o cenário difere substancialmente. Nestes estados a principal demanda para o produto seria o consumo pelo setor de transporte, considerando a migração da frota de veículos e máquinas agrícolas para o uso de biometano. A demanda limitada para uso industrial, a ausência de gasodutos e distância em relação a grandes centros são fatores que tornam a produção de biometano nestes locais menos atraente. Ou seja, o custo logístico passa a ser um fator determinante para o investimento nestes estados. Atualmente há apenas uma instalação autorizada para produção de biometano a partir de resíduos sucroenergéticos localizada em São Paulo com capacidade de 27 M Nm3/dia. Outras 9 unidades estão em fase de implementação em diferentes estados. Conforme projeções da EPE em nota técnica de 2021, o potencial de produção de biometano, consideradas todas as fontes, seria de 216 MM Nm3/dia, significativamente superior a demanda total de gás natural atualmente. Tais projeções se baseiam na disponibilidade de insumos, sugerindo números elevados, porém de difícil implementação, e frequentemente utilizadas como referência no mercado. Dados os fatores discutidos anteriormente, espera- -se que haja a influência de fatores como: localização da demanda, tipos de consumidores, custo logístico, entre outros não mencionados, na implementação de novas unidades de produção de biometano, e não somente a projeção de produção baseada na disponibilidade de insumos. Ou seja, as projeções de potencial de produção atuais estão distantes da realidade econômica dos projetos em discussão. Este contexto deveria ser considerado pelo CNPE na definição dos percentuais futuros de redução de GEE para o mercado de gás natural, que correspondem a obrigação de produção de biometano no país, de forma a tornar estes objetivos alcançáveis sem influenciar o preço final do gás natural para o consumidor. -------- * Henrique Santucci é engenheiro químico e Consultor da Leggio Consultoria
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