e-revista Brasil Energia 486

54 Brasil Energia, nº 486, 19 de abril de 2024 Continuação Mariana Mattos solução, mas para o longo prazo é preciso estimular a produção de amônia a partir de recursos renováveis. E uma forma de produzir amônia e, consequentemente, ureia, sem depender de fontes fósseis, é pelo aproveitamento do biogás. O biogás, produzido por digestão anaeróbica de matéria orgânica, é uma mistura de gases contendo principalmente metano (entre 50 e 75%) e dióxido de carbono. O Brasil tem atualmente 885 plantas de biogás em operação, produzindo 2,9 bilhões de m3 por ano. Considerando um conteúdo médio de metano de 60%, isso dá 1.700 milhões de m3 por ano, o suficiente para suprir de biometano duas plantas com capacidade da UFN-III. No cenário atual, esse aproveitamento não seria viável, pois as plantas de biogás estão espalhadas por todo o país, e não há rede de gasodutos para transportar todo esse gás. Segundo a Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás), o potencial de produção de biogás no Brasil, no curto prazo, é de 10,8 bilhões de m3 por ano, considerando apenas resíduos e efluentes com acesso imediato dentro das cadeias da agropecuária, indústria e saneamento. E o potencial teórico, de longo prazo, é 84,6 bilhões de m3 por ano. E o biogás pode ser utilizado diretamente para a produção de hidrogênio de baixo carbono, após a remoção de alguns contaminantes (em especial o H2S), sem a necessidade de separar o CO2, através do processo denominado reforma a seco. Nesse processo, o metano reage com o CO2 para formar o gás de síntese (mistura de H2 e CO), ao invés de reagir com o vapor d´água, como acontece no processo clássico de reforma a vapor (que é o processo mais usado no mundo todo para produção de hidrogênio a partir do gás natural). Embora o setor agropecuário seja responsável por 78% das plantas de biogás em operação no país, apenas 10% do volume produzido vem dessas plantas, ou seja, a maioria é de plantas de pequeno porte. Considerando o interesse do setor agropecuário nos fertilizantes, a ampliação dessas plantas, e sua ligação através de gasodutos, para fornecer o biogás para uma unidade de amônia, mostra- -se como uma ótima estratégia para reduzir a dependência de importações de fertilizantes e colocar o Brasil cada vez mais no caminho do desenvolvimento sustentável. Setor agropecuário responde por 78% das plantas mas apenas por 10% da produção nacional

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