e-revista Brasil Energia 486

56 Brasil Energia, nº 486, 19 de abril de 2024 Continuação Paula Kovarsky tão ou mais eficaz que o carro elétrico no quesito emissões. Produzimos biodiesel, podemos produzir diesel verde coprocessado em nossas refinarias. Fazemos bioplásticos de etanol. Para que ficar tentando copiar soluções importadas de países que não tem alternativa? Como transformar esse potencial, essa vantagem competitiva em riqueza de verdade, convertida em desenvolvimento real e sustentável para o nosso país? Encontrando quem realmente precisa e pode pagar pelos nossos produtos verdes. Precisamos sim retomar um processo robusto de reindustrialização do país para exportar produtos com menor pegada de carbono e monetizar de verdade esse atributo, mas com objetividade e pragmatismo. Podemos exportar biocombustíveis que já produzimos, e outros produtos renováveis produzidos a partir do etanol como SAF ou Biobunker. Podemos produzir amônia verde a partir do biometano, num país que apesar de celeiro do mundo importa mais de 90% dos fertilizantes. Já estamos exportando com prêmio significativo o etanol de segunda geração (uma tecnologia de ponta que só o Brasil conseguiu fazer funcionar em escala industrial na Raízen). Quais as alternativas disponíveis, com prontidão e escala para colocar a bola para rolar imediatamente, além de serem todos produtos “drop in”, que podem ser misturados imediatamente aos fósseis, usando infraestrutura e maquinário existentes? Olha o perigo de entrar em campo de sapato alto. Participei pela primeira vez do B20 há dois anos na Indonésia. No início das discussões, não havia sequer menção ao papel dos biocombustíveis no capítulo de transição energética e conseguimos colocar o tema no documento final de recomendações políticas. No ano seguinte, na Índia, ganhamos um aliado importante, um país produtor de cana-de-açúcar como nós. Ainda assim muito pouco do que saiu das recomendações do B20 chegou de verdade ao G20. Este ano, o grupo de Transição Energética e Clima, liderado pela Raízen, larga de um estudo produzido pela Mckinsey que indica que o consumo de biocombustíveis deverá quadruplicar já em 2030. A Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena) prevê que a demanda por biocombustíveis pelo menos triplique até 2030. Mas, para que o Brasil possa, legitimamente, se beneficiar desse momento único, precisamos de foco, organização, pragmatismo e ciência. Ter objetivos de longo prazo como hidrogênio é muito importante, mas temos nossos produtos agrícolas e nossos biocombustíveis de hoje e do futuro próximo para monetizar agora, contribuir sim para o desenvolvimento do Brasil e ajudar o mundo, que tem poucas alternativas dada a urgência. Sentar objetivamente na mesa de negociação de alto nível sobre agronegócio sustentável, uso da terra, biocombustíveis, créditos de carbono, certificação e métricas, para que os atributos de redução de pegada de carbono e não competição com alimentos sejam cientificamente reconhecidos pelos nossos clientes do Norte Global, que precisam priorizar tecnologias eficientes e não tomar decisões políticas em prol de interesses específicos. Viabilizar o acesso essencial ao pool de capital global disponível e ávido por bons projetos renováveis. Pelo menos no B20 o grupo de Transição Energética e o de Finanças e Infraestrutura, liderado pela EB-Capital, estão trabalhando de forma muito coordenada. E então nosso gol será justamente sair com poucas e boas recomendações que sejam realmente ouvidas e incorporadas pelo G-20, sob nossa liderança. É hora de sair da arquibancada e entrar em campo, escalando nossos melhores jogadores, com tática e disciplina, sem estrelismos e jogando em equipe. A bola está com a gente e o campo é nosso. Mas não podemos vacilar de jeito nenhum. Como se diz no futebol, quem não faz, leva!

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