Ano 43 - No 491 - brasilenergia.com entrevista com CLÉCIO LUÍS, governador do AP HIDROGÊNIO Projeções para o H2V no Brasil em 2025 POLÍTICA PÚBLICA Via Petrobras, o Governo volta a estimular a indústria naval HIDRELÉTRICAS Como as usinas da Amazônia complementam as do S/SE GÁS Brasil tem demanda para oito novos gasodutos TRANSIÇÃO ENERGÉTICA O avanço dos projetos de CCS no Brasil INOVAÇÃO Energytechs brasileiras lideram setor na AL RENOVÁVEIS Biometano exclusivo nas redes de SP e PR
Soluções em energia para um futuro sustentável Em busca de um futuro mais sustentável, promovemos a transição energética a partir de investimentos e parcerias em projetos de energia renovável, descarbonização e segurança energética. 99,37K MWh de energia gerada por ano; 55,5 MWp em potência instalada; 23,82K toneladas de CO₂ evitadas por ano; 7,58M litros de diesel evitados por ano; O futuro começa aqui.
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 3 Neste mês, o tema da Margem Equatorial ganhou novas dimensões com a tomada de posição do Presidente Lula em favor da perfuração de um poço pioneiro na região, enquanto a Ministra Marina Silva lavava as mãos, atribuindo ao corpo técnico do Ibama a responsabilidade pelo sim ou pelo não. Ante o impasse, a Brasil Energia foi ouvir o Governador do Amapá, Clecio Vieira, sobre os prós e contras que se tem levantado ante a iminência da indústria de O&G se mudar para um estado com um dos IDH mais baixos do país e, ao mesmo tempo, um santuário ecológico. Sabemos ser possível combinar desenvolvimento com sustentabilidade, mas nessa questão o que parece ser o divisor de águas é se a atividade de O&G pode ser positivamente sustentável ou se simplesmente a sua existência é motivo para vetos. Seria uma enorme surpresa o Governador se alinhar aos contras. Mas na entrevista de hora e meia, concedida às jornalistas Rosely Maximo e Fernanda Nunes, Vieira foi mais além. Ele externa com riqueza de detalhes o que o estado pode ganhar com a chegada da indústria de O&G e também que cuidados precisa adotar para não repetir más experiências vividas em outros estados e municípios. A entrevista ocupa 8 páginas nesta edição e pode ser assistida na íntegra em vídeo no nosso canal no You Tube. Celso Knoedt Diretor Presidente edição 491 sumário olá leitor, POLÍTICA PÚBLICA 30 As novas investidas da Petrobras de estímulo à indústria naval... 32 ...de retomada em sua presença no downstream... 34 ...e estender oleodutos rumo ao Norte e Centro-Oeste. PETRÓLEO 60 Brava faz primeiro offloading de Atlanta 62 Desafio de aumentar fator de recuperação de Papa-Terra SÉRIES ESPECIAIS HIDROGÊNIO 16 As projeções para H2V no Brasil em 2025 14 Economia do hidrogênio em fase crítica de desenvolvimento GÁS 38 EPE aponta oito gasodutos para os próximos anos 42 Gasmig tem sinal verde para a rede do Centro-Oeste em MG 17 Hidrelétricas, Água e Sustentabilidade 47 Ações em Transição Energética 65 Novos Modelos e Tecnologias em Energia
4 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 75 FREDERICO ACCON A nova dinâmica da geração e o retorno dos Leilões Regulados 59 BRUNO ARMBRUST O casamento do gás natural e do biometano made in Brazil 28 CLAUDIA BETHLEM O Quebra-Cabeças da Sustentabilidade 64 JOSÉ ALMEIDA DOS SANTOS Perspectivas do shale gas e tight oil no Brasil e América do Sul 76 LUIZ EDUARDO BARATA A nova dinâmica da geração e o retorno dos Leilões Regulados 46 PAULA KOVARSKY Nova era Trump e o Teorema das Invejas Positivas 45 WAGNER VICTER Os PLs da indústria naval nos EUA e seus efeitos globais 6 CLÉCIO LUÍS VILHENA VIEIRA Governador do Amapá “O Amapá tem direito a uma nova matriz econômica com o petróleo” edição 491 sumário EDITORA BRASIL ENERGIA – Rua Conselheiro Saraiva, 28 / 601, CEP 20091-030 – Rio de Janeiro - Tel (21) 3503-0303 - www.brasilenergia.com Diretor Presidente: Celso Knoedt – Diretores: Alessandra Alves, Patricia Quintão, Rosely Maximo – Editora Executiva: Rosely Maximo – Redatores: Ana Luisa Egues, Celso Chagas, Chico Santos, Eliane Velloso, Esther Obriem, Eugenio Melloni, Fernanda Legey, Fernanda Nunes, Liana Verdini, Marcelo Furtado, Nelson Valencio, Sabrina Lorenzi - Tratamento de Dados: Mauricio Fagundes - Programação Visual: Ana Beatriz Leta - Foto capa: Secom/GEA ASSINATURAS: Alessandra Alves, assinaturas@brasilenergia.com.br - Tel: (21) 3503-0303 / 98702-4237 • BRASIL ENERGY: Anual, R$ 1.795; Mensal, R$ 172 • ENERGIAHOJE: Anual, R$ 1.390; Mensal, R$ 136 • PETROLEOHOJE: Anual, R$ 1.390; Mensal, R$ 136 • CENÁRIOS EÓLICA: Anual, R$ 1.585 • CENÁRIOS GÁS: Anual, R$ 1.585 • CENÁRIOS PETRÓLEO: Anual, R$ 1.585 • CENÁRIOS SOLAR: Anual, R$ 1. 585 ATENDIMENTO AO ASSINANTE: Tel: (21) 3503-0303 / 98702-4237 PUBLICIDADE: Paula Amorim, publicidade@brasilenergia.com.br - Lúcia Ribeiro (21) 97015-4654, Alex Martin (11) 99200-0956 e Fernando Polastro (11) 5081-6681 ENTREVISTA COLUNISTAS
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 5 imagem do mês O parque solar Açaí 04 está sendo montado pela Helexia na cidade de Presidente Figueiredo, no Amazonas. Outras três plantas fotovoltaicas estão em construção pela empresa no estado – duas na cidade de Iranduba e uma em Manacapuru –, com potência total de 12,88 MWp. Quando prontos, vão produzir 23,7 GWh por ano e possibilitar a redução do consumo de diesel para geração de energia na região. Foto: Divulgação/Helexia
6 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 entrevista Clécio Luís Vilhena Vieira Luhana Baddini/Agência Grito
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 7 Geógrafo e especialista em Desenvolvimento Sustentável, Clécio Luís Vilhena Vieira, 52 anos, percorre os corredores da política no Amapá há 21 anos. Nos últimos dois, como governador, passou a circular ainda mais intensamente em Brasília e no Rio de Janeiro, pelo Planalto e escritórios da Petrobras. A exploração da Bacia da Foz do Amazonas pela petrolífera estatal é o seu motor. Da presidente da estatal, Magda Chambriard, tem recebido, nos últimos dias, um aceno de que a licença do Ibama para a pesquisa do potencial da região pode sair a qualquer momento, no mais tardar, em março, quando a empresa conclui a construção do Centro de Reabilitação e Despetrolização de Fauna de Oiapoque. Se as expectativas se concretizarem e a reserva de petróleo local for compatível à da vizinha Guiana Francesa, como se espera, a arrecadação mensal de royalties do Amapá pode chegar a R$ 10 bilhões, segundo estimativas mais otiO Amapá tem direito a uma nova matriz econômica com o petróleo A expectativa pela licença para exploração na Foz do Amazonas já está impactando a economia do Amapá. É o que mostra o Governador Clécio Luís Vilhena Vieira nesta entrevista à Brasil Energia. Confiante na liberação pelo Ibama até março, ele fala sobre os planos para a futura arrecadação, como alavancar projetos de bioeconomia e reverter as marcas de pobreza do estado | POR FERNANDA NUNES E ROSELY MAXIMO |
8 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 entrevista Clécio Luís Vilhena Vieira mistas. O valor é uma fortuna para um estado que possui PIB anual de R$ 23,6 bilhões, o segundo menor do Brasil, atrás apenas de Roraima (R$ 21 bilhões). Ou seja, se tudo der certo para a Petrobras, o Amapá pode receber, em um mês, quase metade de toda riqueza que costuma acumular em um ano. Com o dinheiro em mãos, o governador espera reverter marcas de extrema pobreza do estado. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), de 2020, revelam que 77% da população amapaense não têm acesso ao sistema de rede de água e 93,1% das residências não possuem coleta de esgoto. Após mudanças na concessão do serviço, alguns indicadores melhoraram desde então. Mas o cenário ainda preocupa. Com 733,7 mil habitantes e 142,5 milhões de km2 de território, o estado possui Indicador de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,688, de nível médio, inferior ao do Brasil (0,754). “Temos todo direito de ter uma nova matriz econômica, porque somos o estado que mais preservou sua floresta, seus povos, sua cultura e ficou na pobreza. A gente passa uma mensagem muito ruim para o mundo”, afirmou Clécio Luís (Solidariedade). O Amapá é líder nacional em preservação florestal. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) não registrou qualquer caso de retirada irregular de árvores no estado, em 2024. Na contramão do que aconteceu na região Norte Fluminense, que ficou conhecida por esbanjar o dinheiro do petróleo e penar com o amadurecimento da Bacia de Campos, o governador quer usar o dinheiro dos royalties da Margem Equatorial para fomentar novas frentes de arrecadação para quando as reservas se esgotarem, inclusive com investimento em energias renováveis, como geração eólica. “Quanto mais desenvolvermos em padrões éticos, vamos poder preservar mais. De barriga vazia, ninguém toma conta nem de si, muito menos de uma floresta tão imponente quanto a nossa”, disse o governador à Brasil Energia. Veja abaixo os principais trechos da entrevista. Qual a sua expectativa para o licenciamento e atividade da Petrobras na Foz do Amazonas? Acredita que a licença vai sair em março como esperado pela empresa? A expectativa é a melhor possível porque estou ouvindo de A a Z que vai sair a licença, do presidente Lula à presidente da Petrobras, com quem tenho falado constantemente ao telefone. Fui ao Rio de Janeiro conversar com ela também. Esperamos que saia até março. Mas, essa licença já poderia ter sido expedida, porque todas as exigências do Ibama já foram cumpridas. Os debates também foram superados. Restou a construção do hospital de fauna (Centro de Reabilitação e Despetrolização de Fauna de Oiapoque) pela Petrobras. De todo o relatório do Ibama (em resposta ao pedido de licenciamento da empresa), a exigência de instalação desse hospital foi o único com a qual concordei. O Ibama poderia ter expedido a licença com a condicionante do hospital. A obra deve estar hoje (20/1) 70% pronta.
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 9 Qual mensagem o presidente Lula e a presidente da Petrobras têm passado para o governo do Amapá neste momento? Há um consenso sobre o petróleo na costa do Amapá. Unanimidade não temos, mas o consenso é tão majoritário que nos permite avançar. Preciso pontuar que medidas protelatórias atrapalham, mas o otimismo é muito maior, principalmente na região Norte do Amapá. É preciso dizer também que não estamos colocando todos os nossos ovos numa única cesta. Estamos realizando estudos muito importantes sobre oportunidades na área de renováveis. O primeiro ficou pronto: o atlas de todo potencial de geração de energia solar do Amapá. Nos próximos meses, sai o atlas do potencial eólico do estado e, em seguida, vem o de biomassa. A gente deve ter uma matriz de fonte fóssil, que vai se esgotar, junto com outra de renováveis. Isso dá muita segurança para a gente. Qual foi o motivo da reunião com a presidente da Petrobras, no escritório da empresa, no Rio de Janeiro? Estivemos com ela presencialmente e tenho falado com ela por telefone. Ela diz que a licença pode sair a qualquer dia e que o horizonte máximo é março. Esperamos que, após o hospital de fauna pronto, não haja nenhum tipo de medida protelatória. A Petrobras sinalizou para o governo do Amapá quando deve ser retirado o primeiro óleo da Bacia da Foz do Amazonas? No cenário mais otimista, três anos. No mais pessimista, dez anos. Eu ficaria muito feliz de ter uma produção de petróleo na costa do Amapá em cinco anos, na média. O governo do Amapá já tem alguma previsão de ganhos com royalties a partir de uma produção de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas? Como o dinheiro deve ser usado? Obviamente, não entendemos de petróleo. Por isso, estamos estudando toda experiência acumulada no Brasil e no mundo. Vamos fazer o mesmo que estados e municípios que tiveram as economias prejudicadas pela queda da produção? Não queremos repetir isso. Defendo que uma grande parte dos royalties vá para pesquisa aplicada para desenvolver produtos e negócios a partir da bioeconomia. Podemos aplicar uma parte dos recursos nas universidades, na manutenção Eu ficaria muito feliz de ter uma produção de petróleo na costa do Amapá em cinco anos.
10 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 entrevista Clécio Luís Vilhena Vieira dos povos indígenas do Oiapoque, na preservação do meio ambiente. O Amapá vai conseguir fazer a melhor governança dos recursos oriundos do petróleo. Existem muitas contas de arrecadação. Tem quem fale em R$ 3,5 bilhões por mês, podendo chegar a R$ 10 bilhões. O PIB anual do Amapá é de R$ 23 bilhões. Isso muda tudo. E esperamos que seja para melhor, porque a mesma enxurrada de recursos pode servir para alimentar o crime organizado. Não queremos isso. A formação de mão de obra também nos preocupa, porque hoje não temos esse pessoal. Os primeiros profissionais vêm de fora, naturalmente. Mas vamos levantar quais profissionais precisamos formar para disputar esse mercado. Há um projeto de atração da cadeia produtiva? Estamos produzindo um Plano de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF). Vamos detectar quais empresas locais podem se preparar para este novo mercado, porque vai ter necessidade até do mais elementar, como o fornecimento de comida. Alguns empresários amapaenses podem se preparar para isso. Mas, talvez, vamos ter que trazer fornecedores de fora. Vai ser interessante ter um CNPJ novo aqui de uma empresa que já está em outro estado, para gerar emprego. Quais melhorias de infraestrutura precisam ser feitas no estado, que poderiam ser viabilizadas pelos royalties? Não é tão fácil hierarquizar isso. Não tenho dúvida de que saneamento básico seria um dos primeiros. Mas nós acabamos de fazer uma concessão do que a gente compreende como saneamento básico, que envolve resíduos sólidos e drenagem. O esgotamento sanitário e a água estão melhorando bastante, porque houve uma concessão. Se houver uma necessidade de reforço, o saneamento, certamente, será uma das prioridades. Mas, em paralelo, vou insistir em usar os recursos dos royalties para gerar atividade econômica, que vai sustentar o Amapá depois do petróleo. Parece muito tempo, 30, 40, 50 anos (de duração das reservas). Não é. A gente tem que se preparar agora, com muita pesquisa aplicada, especialmente para gerar novos produtos e negócios. Além disso, precisamos de estradas, porque vivemos na Floresta Amazônica. Mobilidade para a gente é um problema. Nos locomovemos muito por rios. Precisamos ter modelos mais eficientes, inclusive energeticamente. Tem lugares onde só se chega de avião, como em aldeias indígenas. Precisamos de estradas rodoviárias, estradas de ferro, soluções inteligentes de navegação. O Amapá passou por uma grande dificuldade com um apagão, em 2020. O que evoluiu desde então, inclusive na universalização do atendimento? Mudou muita coisa. O apagão foi uma tragédia. Imagina o comerciante que perdeu tudo que investiu. O pobre que tinha acabado de comprar comida para a sua família e, sem energia, ficou tudo estragado na geladeira. Ficamos sem comunicação. Nunca mais iremos esquecer. Eu era prefeito (de Macapá) na época, estava no último ano de gestão, pronto para entregar o bastão. Tudo estava perfeito até acontecer esse apagão. O Davi Alcolumbre foi decisivo. Ele era presidente do Senado e moveu céu e terra. Os
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 11 transformadores que incendiaram foram fabricados há muito tempo na Índia. Não era possível encontrá-los na prateleira e não tinha peça de reposição. Então, foi uma força tarefa para ir atrás dos senhores do Sistema Eletrobrás e descobrir soluções. Foi feita uma megaoperação para trazer geradores da Colômbia e de outros estados. Tudo foi realizado nos 22 dias de apagão. Ficou algum dever de casa para ser feito? Em paralelo às medidas emergenciais, os senadores Davi (União Brasil/AP) e Jean Paul Prates (PT/RN) colocaram, naquele momento, os recursos para fazer a pesquisa, no Senai do Rio Grande do Norte, que hoje está dando origem aos atlas solar, eólica e de biomassa. Foram criadas novas perspectivas de diversificação energética. Também houve a concessão do serviço de distribuição de eletricidade. Houve uma modificação radical do tipo de fornecimento de energia. Tínhamos energia boa por causa do Linhão de Tucuruí. Mas não tínhamos uma boa distribuição. Hoje, podemos dizer que qualquer empresa que queira se instalar no Amapá tem condições energéticas para isso. Além disso, vamos ter uma nova turbina na hidrelétrica de Coaracy Nunes que vai triplicar a geração de energia. Não será necessário ampliar o reservatório. Então, mudou muita coisa depois do apagão. O Amapá também sofre com o alto preço da energia elétrica. Esse é um grave problema. A distribuidora estatal Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) quebrou totalmente, ao ponto de ser desabilitada, de perder a concessão. Não era possível colocar uma batedeira nova de açaí, porque não tinha energia suficiente. Uma das penalidades impostas à distribuidora foi proibir reajustes por dez anos. Ou seja, ela foi empurrada para o buraco mais ainda. Também havia uma taxa de inadimplência absurda, que beirava a 30%. Então, quando você coloca uma empresa nova (Equatorial Energia), um ente privado para refazer todas as subestações, o posteamento, trocar fiação, reformar todos os rebaixadores, colocar novos alimentadores… isso vai para a conta. Nós fomos penalizados de novo, porque passamos a sofrer reajustes que o Brasil não sofreu. E, pela nossa conta, há penduricalhos que não são nossos. São inegáveis os investimentos e a melhoria do fornecimento da energia, mas temos um problema. Temos dificuldade de pagar energia. Uma família tem que chegar no fim do mês e escolher pagar a conta de luz ou comprar comida. Isso está errado. No ano passado, conseguimos barrar o reajuste, numa negociação muito intensa. Seria um reajuste de 44%, impagável para os amapaenses. A tarifa de energia elevada é um impeditivo para atrair a cadeia fornecedora para a exploração e produção de petróleo para o estado? A energia hoje é um fator de atração de investimento, porque estamos interligados ao Sistema Nacional e temos as nossas hidrelétricas que produzem a mais. Nós exportamos energia. Do ponto de vista tarifário, temos um problema que enfrentamos e estamos resolvendo. O fato de não ter quase dois anos de reajuste, enquanto o Brasil inteiro teve, nos favorece. Se conseguirmos encontrar outras
12 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 entrevista Clécio Luís Vilhena Vieira fontes legais para não ter esse mesmo nível de reajuste ou para diluí-lo num perfil mais alongado, vamos ter uma tarifa mediana ou uma das mais baixas do Brasil. Essa solução resolve? Tem questões que precisam ser resolvidas em nível nacional. A conta de energia do brasileiro está numa escalada. É necessário fazer algo para que não vire um impeditivo para a vida das pessoas. Participei de uma conversa com o ministro de Minas e Energia (Alexandre Silveira), com o Davi (Alcolumbre) e com o presidente Lula em que essa preocupação era muito grande. A ideia é encontrar alternativas para baratear a energia na ponta sem destruir o que tem no mercado e sem romper contratos. Outro ponto é que, quando um grande cliente sai do sistema e parte para o mercado livre, ele deixa o custo da rede para quem ficou. Isso não é justo. Vai ser necessário um pacto envolvendo os empresários do setor e consumidores, uma engenharia política e econômica para que a gente gere mais energia a valores mais razoáveis. Energia não é item de luxo, para poucos. No atlas de geração solar lançado recentemente é identificado o potencial de produção do estado? Se usarmos 3% das faixas permitidas do território do estado para instalar usinas fotovoltaicas, teremos capacidade de produzir 54 GW (gigawatts). A hidrelétrica de Itaipu tem potência instalada de 14 GW. Se ampliarmos para 7%, são mais de 200 GW. Já o atlas de geração eólica vai apontar um grande potencial a partir do uso de torres um pouco mais altas, para pegar a ventilação mais acima (e vencer a resistência de árvores gigantescas). Mas não sei dizer o potencial eólico. O estado também tem um grande potencial de biomassa. Atividades que utilizam produtos da floresta podem também gerar energia. Os atlas serão disponibilizados gratuitamente para as universidades, pesquisadores e empreendedores. Fica a mensagem: aquele estado do Amapá, que já passou muito perrengue… vale à pena investir nele. Assim, as pessoas vão poder falar verdadeiramente em preservação da Amazônia e não somente da boca para fora. Hoje, falar de sustentabilidade na Amazônia, no Amapá, com essa realidade da pobreza é insustentável, não é verdadeiro. Qual a diferença entre a sua visão do Amapá e a do restante do Brasil e de outros países? O Amapá é um lugar incrível, complexo e maravilhoso. Quando a gente começa a entendê-lo melhor, se irrita (com algumas visões externas). Porque eu sei que a exploração não vai se dar na foz do rio Amazonas. Foz é um conceito técnico. Tem que ter uma boca de um rio que vai desaguar em outro rio ou no mar. Não está na foz (o bloco da Petrobras). Simples assim. Está na costa do Amapá, quase no final da placa continental e a 50 km da Guiana Francesa. Está muito longe. A maioria das matérias que se refere à exploração na Bacia da Foz do Amazonas traz a foto de um riozinho sinuoso, com uma comunidade tradicional. Não fala a verdade. Isso cria um pânico, um sentimento negativo e o mundo reage a isso. Nesse aspecto irrita. Mas, como professor, estou muito disposto a tratar e tirar lições disso.
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 13 O que o senhor espera da COP 30? Duas coisas são terríveis e não podem acontecer na COP 30. Uma é as pessoas saírem de lá romantizando a Amazônia. Não é que não se possa adorar e se emocionar com a Amazônia. Só não podemos sair somente com isso, com uma foto ao lado de um indígena, dizendo ‘eu fui’, como no Rock in Rio. A Amazônia tem mazelas. Tem trabalho escravo. Tem exploração sexual infantojuvenil. Tem pobreza. Isso precisa ser dito também. O outro extremo é tão grave quanto. É se ajoelhar para um discurso importado que diz que nós não conseguimos cuidar da Amazônia, que não podemos mexer na floresta. Precisamos preservá-la, mas desenvolvê-la também. Quanto mais desenvolvermos em padrões éticos, vamos poder preservar mais. De barriga vazia, ninguém toma conta nem de si, muito menos de uma floresta tão imponente quanto a nossa. O meio termo é falar a verdade. Essa vai ser a melhor jogada na COP 30. Como tem sido a relação do governo do estado com os ambientalistas? Tem sido uma relação de muito respeito. Todo mundo sabe minha posição, dos consensos criados nas classes política e empresarial. É óbvio que existem posições divergentes. Estou falando de consenso e não de unanimidade. É claro que vai haver manifestação contrária. A gente tem que respeitar. As ONGs vão levantar questões importantes e isso tem que ser levado em consideração. A questão é mediar esse diálogo para construirmos um consenso. A perspectiva de a licença ser liberada em breve já está mexendo com o seu dia a dia, com a economia local e a organização da população? Está. Vou te dar um exemplo. A gente tinha um aeródromo no Oiapoque bem precário, arriscado até. Hoje, temos um aeródromo perfeito, que já permite voos noturnos, com equipamentos novos, com um hangar. Agora começam a chegar aeronaves. Engenheiros civis que têm oportunidade melhor no Oiapoque foram para lá. Tem efeito positivo na economia. Movimentações comerciais, nas imobiliárias. Tem muita gente fazendo planos. E está também mexendo com os nossos sonhos de ter essa oportunidade de desenvolver o Amapá com muita responsabilidade. n ASSISTA a vídeo-entrevista completa no nosso canal do YouTube. Clique na imagem.
14 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 hidrogênio Economia do hidrogênio em fase crítica de desenvolvimento Segundo relatório da GlobalData, demanda não aumenta no ritmo previsto em 2020, quando empresas anunciaram planos de transição energética | POR ESTHER OBRIEM |
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 15 O relatório Hydrogen, divulgado em janeiro pela GlobalData, destaca que a economia do hidrogênio está em fase crítica de desenvolvimento. A demanda não aumenta no ritmo previsto cinco anos atrás, quando empresas ao redor do globo começaram a anunciar planos de transição energética. Segundo o documento, aproximadamente 83% da capacidade de hidrogênio de baixo carbono que entrará em operação até 2030 será proveniente de usinas de hidrogênio verde, enquanto o restante será de hidrogênio azul (gás natural com captura de carbono). As capacidades de hidrogênio roxo (nuclear) e turquesa (metano) devem ser baixas. Somente cerca de 2% da capacidade total esperada até 2030 está atualmente operacional. “Como o hidrogênio é uma matéria-prima essencial nos processos de downstream de petróleo e gás, mudar para hidrogênio de baixo carbono ajudaria as empresas a reduzir sua pegada de emissões. Ele também tem um potencial enorme no setor de transporte”, pontuou o analista de Óleo e Gás da GlobalData, Ravindra Puranik. A previsão é que a indústria de petróleo e gás continue a impulsionar o hidrogênio e que surja uma demanda adicional pelo energético em indústrias como metalurgia e automotiva. No caso dos transportes, Puranik pontuou que o potencial do combustível é elevado em decorrência das propriedades de densidade energética. “Empresas de petróleo e gás anunciaram novas plantas de hidrogênio azul e verde, que devem estar operacionais até 2030. No entanto, há uma necessidade de expansão da rede de distribuição de hidrogênio em escala, o que inclui a adição de novos gasodutos”, afirmou. n Maior projeto de H2V do mundo, Green Hydrogen Pilot Project, da Sinopec, está instalado na China e produz com energia solar Foto: Divulgação/Sinopec
16 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 hidrogênio A Associação Brasileira do Hidrogênio Verde (ABIHV) divulgou que o Brasil terá seis decisões finais de investimentos em 2025 para projetos de hidrogênio verde, amônia verde, metanol e fertilizantes nitrogenados. No total, são três projetos localizados no Ceará, um em Pernambuco, um no Piauí e um em Minas Gerais. O setor de hidrogênio verde acumula projetos que somam R$ 188,7 bilhões em investimentos, conforme dados da CNI. A diretora executiva da associação, Fernanda Delgado, destacou que os montantes são mais do que números e mais do que matriz energética, são processos produtivos. “Eles representam uma verdadeira transformação econômica e ambiental, consolidando o Brasil como protagonista da transição energética global, com impacto em geração de empregos, inovação tecnológica e atração de novos negócios”, afirmou. A executiva ainda ressaltou o potencial brasileiro para liderar o mercado globalmente, aproveitando a matriz energética limpa e os incentivos trazidos pelo Marco Legal do Hidrogênio e pelo Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC). n Pela previsão da ABIHV, país deve ter seis decisões finais de investimento para projetos de hidrogênio verde, amônia verde, metanol e fertilizantes nitrogenados | POR ESTHER OBRIEM | As projeções para H2V no Brasil em 2025 Planta de hidrogênio verde da EDP no Ceará, parte do projeto P&D Pecém H2V Foto: Divulgação/EDP
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 17 esta Série Especial, produzida pela Brasil Energia com o apoio da Eletrobras como parceiro institucional, destacamos a Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental dos projetos hidrelétricos. Na revista reunimos matérias, reportagens e entrevistas que publicamos semanalmente no site, mostrando que, além de energia, as UHEs, PCHs e CGHs fornecem água, são aliadas contra secas e inundações e irradiam negócios, empregos e impostos. N Destaques da Edição clique para ir direto para o conteúdo SÉRIE ESPECIAL A vida no S/SE depende muito da energia da Amazônia As usinas do Tietê movimentam São Paulo, motor do Brasil Sustentabilidade da cadeia produtiva das UHE de pequeno porte Meio século de Marimbondo, maior usina do rio Grande
18 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 HIDRELÉTRICAS, ÁGUA E SUSTENTABILIDADE A vida no Sul e Sudeste depende muito da energia gerada na Amazônia Apenas quatro hidrelétricas da Amazônia respondem por mais de 10% da carga do país. Elas operam para poupar os reservatórios do Sul e equilibrar a carga. Mas enfrentam, ano após ano, secas cada vez mais intensas nos rios Madeira, Xingu e Teles Pires, afluente do Tapajós Foto: Defesa Civil do Amazonas
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 19 | POR CHICO SANTOS | O dia 27 de novembro de 2024 representou uma data significativa no contexto do Setor Elétrico Brasileiro (SEB): naquela data, cinco anos antes, o consórcio Norte Energia acionava a última das 18 turbinas do complexo hidrelétrico Belo Monte, completando a capacidade de projeto da maior usina 100% brasileira. Belo Monte tem capacidade de 11.233 MW, incluídos os 233 MW das seis turbinas tipo bulbo da casa de força complementar da UHE Pimental, instaladas no canal de fuga do chamado trecho de vazão reduzida do rio Xingu. Com a conclusão de Belo Monte, ficava pronto o conjunto do que foi socioambientalmente viabilizado das chamadas usinas estruturantes da Amazônia, representadas em termos macro, além da gigantesca usina do Xingu, pelas UHEs Jirau (3.750 MW) e Santo Antônio (3.568 MW), formadoras do chamado Complexo do Madeira, e ainda pela UHE Teles Pires (1.820 MW), para ficar apenas nas usinas com mais de mil MW de capacidade. Das três últimas, Santo Antônio foi inaugurada em 2012 e as outras, em 2016. Na verdade, o termo “estruturante” foi aplicado pelo CNPE entre 2007 e 2009 Os números anuais do ONS mostram que a participação das estruturantes na carga dos últimos cinco anos foi fortemente afetada pela seca extrema que atingiu a bacia do Madeira em 2023 e 2024 e a do Xingu somente em 2024
20 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 HIDRELÉTRICAS, ÁGUA E SUSTENTABILIDADE para dar celeridade aos processos de licitação e implantação das três maiores usinas amazônicas, dada a importância que elas teriam para “estruturar” as operações do SIN. Seriam usinas a fio d’água que, operando com força máxima, ressalvados obstáculos conjunturais, no período chuvoso, permitiriam que as usinas com reservatórios do Sudeste-Centro-Oeste (SE/CO) e do Nordeste economizassem água para usar no período seco. Gigantescas linhas de transmissão de mais de 500 kV foram construídas para conduzir a energia dessas usinas aos grandes centros consumidores e o cronograma de entrada em operação dessas linhas influiu negativamente no desempenho das UHEs nos primeiros tempos. No caso de Santo Antônio e Jirau, subestações complementares de 230 kV foram construídas para fornecer energia a Rondônia e ao Acre, estados que eram até então basicamente supridos por energia termelétrica gerada a diesel. Passados os primeiros cinco anos, os dados do ONS mostram que o arranjo vem funcionando, noves fora as secas cada vez mais frequentes. Nesses cinco anos de operação plena, Belo Monte, Jirau, Santo Antônio e Teles Pires, por ordem de porte, geraram juntas 336.623 GWh, o que representa 10,87% da carga total do SIN no período que foi de 3.104.583 GWh, somados os dados que constam do histórico do operador. Por coincidência, no atual estágio da matriz elétrica brasileira, os 20.371 MW de capacidade instalada das quatro usinas representam quase a mesma proporção, 9,75% dos 208.930,5 MW da matriz no dia 31 de dezembro de 2024, segundo dados da Aneel. Os números anuais do ONS mostram que a participação das estruturantes na carga dos últimos cinco anos foi Com a conclusão em 2019 da gigantesca Belo Monte, de 11.233 MW, ficava pronto o conjunto das chamadas usinas estruturantes da Amazônia Em 2023 Santo Antônio teve que ser desligada por 15 dias, de 1º a 15 de outubro, porque a vazão do Madeira era insuficiente para colocar as máquinas da usina para funcionar com segurança técnica Foto: Bruno Batista/ Vice-Presidência da República / Wikimedia Commons
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 21 fortemente afetada pela seca extrema que atingiu a bacia do Madeira em 2023 e 2024 e a do Xingu somente em 2024. De 2020 a 2022 a geração anual de Jirau foi de 15.139, 16.131 e 14.029 GWh, respectivamente. Em 2023 caiu para 11.445 e em 2024 registrou 12.326 GWh, com números fechados em dezembro. Da mesma forma, em Santo Antônio o histórico do operador mostra geração acumulada de 17.736 GWh em 2020, 18.145 em 2021 e 17.810 em 2022. Em 2023 o número desaba para 14.184 MW e no ano passado, fica em 14.390 GWh. Em 2023 Santo Antônio teve que ser desligada por 15 dias, de 1º a 15 de outubro, porque a vazão do Madeira era insuficiente para colocar as máquinas da usina para funcionar com segurança técnica. O aprendizado da paralisação permitiu uma solução para elevar o nível do rio a jusante da casa de força da margem direita, possibilitando manter sete unidades geradoras em funcionamento durante a maior seca da história do rio, gerando em torno de 400 MWmed durante o período de setembro ao começo de novembro. Em Belo Monte, o efeito da seca extrema veio em 2024, quando a usina gerou “apenas” 21.404 GWh, de acordo com os números do ONS. Nos quatro anos anteriores, a produção tinha sido de 28.925 GWh em 2020, 31.798 em 2021, recorde de 37.193 em 2022 e 31.498 GWh em 2023. O número de 2022 significa que ela sozinha supriu 6,08% da carga do SIN. Existem diferenças metodológicas entre os dados do ONS e os que são computados pela própria Norte Energia, concessionária da usina. De 2020 a 2023 as diferenças foram residuais, mas em 2024 a empresa computou 22.627,08 GWh produzidos, o que reCom a seca, a geração de Teles Pires, de 1.820 MW de capacidade, caiu cerca de 25% em 2023, para 6.007, e em 2024, para 5.874 GWh
22 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 HIDRELÉTRICAS, ÁGUA E SUSTENTABILIDADE presentou uma diferença para mais de 1.223,08 (5,71%) em relação ao número do operador. No ano passado, a redução extrema da vazão do Xingu, que ficou por muito tempo na casa dos 400 m3/s na altura do complexo gerador, obrigou o ONS a solicitar ao Ibama licença para reduzir de 300 para 100 m3/s a vazão mínima do chamado reservatório intermediário, o que conduz a água à casa de força principal de Belo Monte. Como consequência, a usina ficou do final de setembro até o dia 30 de novembro gerando abaixo de 100 MWmed a maior parte dos dias, menos que a sexta parte da capacidade de uma das suas 18 turbinas de 611,11 MW cada. No período, o operador utilizou a geração de Belo Monte apenas para suprir a potência necessária nos finais da tarde, no horário da chamada rampa solar, quando a fonte fotovoltaica para de gerar. A produção de Teles Pires, a menor das quatro usinas, também sofreu os efeitos da seca sobre o rio do mesmo nome, afluente do Tapajós, em 2023 e 2024. Sua geração, que foi de 7.027 GWh em 2020, 8.154 em 2021 e 8.109 em 2022, caiu cerca de 25% em 2023, para 6.007, e em 2024, para 5.874 GWh. Polêmicas e sustentabilidade A construção das usinas estruturantes foi cercada de polêmicas, em torno, principalmente, de prejuízos socioambientais decorrentes dos barramentos e das construções dos reserAssim como em Santo Antônio, foram construídas subestações complementares em Jirau para fornecer energia a Rondônia e ao Acre Foto: Divulgação
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 23 vatórios, mesmo sendo estes de pequeno porte. A controvérsia mais aguda se deu a respeito da redução da vazão do rio Xingu no trecho de 130 km conhecido como Volta Grande do Xingu, para alimentar o canal que supre de água a usina principal. Em decorrência das compensações pactuadas nos processos de licenciamento ou não, as concessionárias das quatro usinas desenvolvem uma série de programas com o objetivo de atender as demandas dos povos originários e comunidades ribeirinhas dos seus entorno, buscando dar sustentabilidade aos empreendimentos econômicos representados pelas usinas. A Norte Energia S.A., SPE formada pela Eletrobras (49,98%) e vários blocos de investidores, incluindo fundos de pensão, Neoenergia, Cemig, Vale e outros, informou que além do pagamento até agora de R$ 1,2 bilhão em Compensação Financeira pelo Uso e Recursos Hídricos (CFURH), os royalties das hidrelétricas, investiu mais de R$ 8 bilhões em ações socioambientais, sendo R$ 1,3 bilhão destinados às comunidades indígenas. De acordo com a empresa, em decorrência das suas ações, o percentual de moradores abaixo da linha da pobreza de Altamira (PA), principal município da região onde Belo Monte está localizada, caiu de 25% no Censo de 2010 para 3% em 2023. Nas ações diretamente relacionadas à Floresta Amazônica, a Norte Energia informou que seus projetos de reflorestamento, com mão de obra local, restabeleceram 2,4 mil hectares de floresta, tendo plantado 1,5 milhão de mudas nativas. A meta até 2045 é plantar 5,5 milhões de mudas em 7,6 mil hectares. Linhão de Teles Pires: Longas linhas de transmissão de mais de 500 kV foram construídas para conduzir a energia das usinas estruturantes Foto: Divulgação
24 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 HIDRELÉTRICAS, ÁGUA E SUSTENTABILIDADE A Eletrobras, controladora da UHE Santo Antônio desde junho de 2022, informou que o Programa Básico Ambiental (PBA) para licenciamento da usina envolveu 28 programas que resultaram em investimentos totais de R$ 2,6 bilhões. A empresa listou uma série de programas que seguirão ativos até 2047, quando termina a concessão, com o objetivo de dar sustentabilidade à geração de energia. Entre eles, pelo menos três voltados para a fauna do rio, começando pelo Sistema de Transposição de Peixes, que consiste em um canal que reproduz as condições naturais do rio, incluindo as da cachoeira onde a usina foi construída. Outro programa de transposição é voltado especificamente para a Dourada, uma das espécies de peixes mais populares da região, e um terceiro é um Laboratório de Reprodução de Grandes Bagres. Outro programa importante na linha do restauro das condições naturais do rio é o Sistema de Transposição de Troncos, que visa a garantir que os troncos transportados pela corrente do Madeira desde a Cordilheira dos Andes sigam o curso natural. Sobre a UHE Teles Pires, da qual a Eletrobras assumiu 100% do controle em dezembro de 2022 por meio de uma permuta com a Neoenergia, a empresa informou que desde 2015 a usina investiu R$ 189 milhões em ações socioambientais, sendo R$ 60,5 milhões no período de 2020 a 2024. Além disso, a usina pagou desde o início de suas operações R$ 371 milhões de CFURH. Em seu site, a Jirau Energia, concessionária da UHE Jirau - 40% Engie, 40% Eletrobras e 20% Mizha Participações (Mitsui) - informa que desenvolve atualmente 29 programas socioambientais, incluindo o Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório Artificial. Segundo a empresa, durante a construção da usina foram implementados outros 34 programas. Sistema de Transposição de Peixes da UHE Santo Antônio, no Rio Madeira Foto: Divulgação
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 25 O rio Tietê, que praticamente atravessa todo o estado de São Paulo passando por 62 cidades ao longo de seus 1.136 quilômetros de extensão, tem uma longa folha de serviços prestados às comunidades que se formaram e desenvolveram ao longo do seu curso. E as seis grandes UHE em cascata ao longo do rio têm várias outras vocações além de gerar energia, com capacidade para 1,8 GW outorgada. As hidrelétricas garantem o transporte aquaviário com seus reservatórios e eclusas, abastecem de água muitas cidades, controlam cheias e minoram secas, viabilizam a piscicultura e, também, o turismo. E mais; para manter as turbinas operacionais, as UHE respondem por alguma parcela da limpeza do curso d’água, contribuindo para reduzir a poluição que o rio infelizmente carrega. O Tietê, cujo nome vem do tupi e significa caudal volumoso, nasce na Serra do Mar, no município de Salesópolis, a apenas 22 km do Oceânico Atlântico, mas corre para o Noroeste de São Paulo devido à altitude da nascente, a 1.120 metros, até desaguar no rio Paraná. As usinas do Tietê movimentam São Paulo, motor do Brasil Graças às eclusas das hidrelétricas, 715 km de hidrovia impulsionaram a implantação de 23 polos industriais, 17 polos turísticos e 12 polos de distribuição, onde é gerada quase a metade do PIB brasileiro | POR LIANA VERDINI | Continue lendo essa reportagem em: brasilenergia.com.br/brasilenergia/hidreletricas-agua-e-sustentabilidade/as-usinas-do- -tiete-sustentam-o-motor-do-brasil AS SEIS MAIORES UHEs DO TIETÊ Empreendimento Cap. (MW) GF (MW) Grupo Município (UF) Três Irmãos 807,5 206,7 Eletrobras Pereira Barreto (SP) Nova Avanhandava 347,4 125,5 Auren Buritama (SP) Promissão 264,0 93,9 Auren Ubarana (SP) Bariri 143,1 59,6 Auren Boracéia (SP) Barra Bonita 140,8 46,7 Auren Barra Bonita (SP) Ibitinga 131,5 66,8 Auren Ibitinga (SP) Total 1.834,3 599,2 Fonte: Aneel
26 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 HIDRELÉTRICAS, ÁGUA E SUSTENTABILIDADE O Leilão de Energia Nova A-5, previsto para agosto deste ano, está sendo considerado decisivo para a indústria fornecedora de equipamentos para PCHs e CGHs. Do leilão podem participar tanto CGHs, PCHs e UHEs com potência igual ou inferior a 50MW, como também projetos para ampliação de usinas já existentes com potência igual ou inferior a 50MW. Desde 2021, a média de contratação nos leilões realizados está declinante. Naquele ano foram contratados 334 MW médios em dois leilões. No ano seguinte (2022) foram 238 MW médios contratados em apenas um leilão. E nos anos de 2023 e 2024 nada foi contratado. Agora, a expectativa é enorme e envolve, inclusive, o futuro dessa indústria. “Considerando esse histórico recente, aliado à ampliação da abertura de mercado e ao avanço expressivo da energia solar na Geração Distribuída, a expectativa é de que a demanda no próximo leilão se mantenha em patamares reduzidos”, avalia Augusto Machado, presidente do Sindicato Intermunicipal das Empresas de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia do Estado de Minas Gerais (SinGTD). “Assim, é provável que o volume contratado fique próximo ou até mesmo abaixo de 100 MW médios. Se isso ocorrer, o resultado deste leilão não será bom”. Sustentabilidade da cadeia produtiva das UHE de pequeno porte Leilão A-5 deve recuperar demanda zerada há dois anos para equipamentos de PCHs, CGHs e UHEs de até 50 MW. Mas os produtores independentes tem sido bons clientes | POR LIANA VERDINI | PCH Martins, em MInas Gerais: PCHs e CGHs poderão participar do leilão de energia nova em agosto Continue lendo essa reportagem em: brasilenergia/hidreletricas-agua-e-sustentabilidade/os-leiloes-e-seus-efeitos-na-cadeia- -produtiva Foto: Cemig
Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 27 No começo dos anos 1960 o governo federal, em associação com os estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Guanabara, contratou os serviços do consórcio Conambra, formado pelas empresas canadenses Montreal Engineering e G.E. Crippen Associates e pela estadunidense Gibbs and Hill, para fazer um amplo estudo do potencial energético das principais bacias hidrográficas do Centro-Sul do Brasil. A iniciativa vinha na esteira do projeto desenvolvimentista alicerçado no início da década de 1950, governo Getúlio Vargas. Na segunda metade daquela década, o governo Juscelino Kubitschek deu continuidade ao plano de infraestrutura energética, com a construção da hidrelétrica de Furnas, iniciada em 1958 e inaugurada em 1963. O relatório da Conambra, concluído em 1966, tornou-se um grande inventário do potencial hidrelétrico do país, servindo durante muito tempo como plano diretor para a expansão da fonte hidrelétrica como base da matriz elétrica brasileira. O parque gerador quase 90% limpo e renovável que o país ostenta agora começou, portanto, a ser construído muito antes da premência dessa renovabilidade trazida pelas mudanças climáticas. Um dos principais frutos do inventário feito foi a exploração do potencial da cascata do rio Grande ao longo dos seus 1.360 km entre o Parque Nacional de Itatiaia (RJ/MG) e a foz no encontro com o Paranaíba. n Marimbondo, de 1.440 MW de capacidade, é a maior das 12 hidrelétricas que compõem o complexo energético de Rio Grande Continue lendo essa reportagem em: brasilenergia/hidreletricas-agua-e-sustentabilidade/meio-seculo-de-marimbondo-maior- -usina-do-rio-grande Meio século de Marimbondo, maior usina do rio Grande Muito antes da atual premência climática, o Brasil começou a construir uma matriz quase 90% renovável. A UHE de Marimbondo completa 50 anos em 2025 e faz parte dessa história | POR CHICO SANTOS | Foto: Ferdinando Ramos / Ag. O Globo
28 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 Claudia Bethlem é bióloga com 20 anos de experiência em biodiversidade e sustentabilidade. É consultora na Descarbonize e In Carbon. Escreve na Brasil Energia a cada dois meses. Claudia Bethlem Chegou aquela época do ano em que empresas correm para compilar inventários de emissões, relatórios de sustentabilidade, atendimento ao CDP e outros índices e inúmeros indicadores. É possível que a enorme quantidade de relatórios exigidos comprometa a etapa mais essencial do processo: a análise dos dados e a identificação de tendências e oportunidades. Sem um olhar atento para os resultados e seus desdobramentos estratégicos, corre-se o risco de transformar a elaboração de relatórios em um processo meramente burocrático, sem impacto real sobre a gestão e o direcionamento das empresas para uma economia de baixo carbono. Para evitar que a sobrecarga operacional prejudique a qualidade e a estratégia dos relatos, é fundamental adotar uma abordagem de dentro para fora, baseada na dupla materialidade. Isso significa alinhar os objetivos da empresa com impactos reais e positivos, garantindo que os relatórios sejam construídos com base em dados robustos, coletados diretamente no campo. O foco deve estar na coerência entre as métricas de desempenho operacional e as metas ambientais da organização, transformando as informações levantadas em insights para a tomada de decisão e melhoria contínua. A governança, o “G” do ESG, desempenha um papel essencial nesse processo. Ela assegura que a comunicação entre operações e Relações com Investidores (RI) seja de mão dupla, garantindo que os relatórios não sejam apenas um reflexo de demandas externas, mas, sim, um instrumento estratégico alinhado à realidade da empresa. A implementação de processos internos bem estruturados e a definição clara de responsabilidades dentro da organização são passos fundamentais para fortalecer essa governança e garantir que os dados reportados sejam precisos, consistentes e transparentes. Uma das soluções mais eficazes para otimizar essa gestão é a incorporação de tecnologia na coleta e análise de dados, permitindo a automação de relatórios. Sistemas inteligentes podem reduzir o tempo gasto na consolidação de informações, garantindo maior precisão e eficiência. Empresas pioneiras já utilizam plataformas baseadas em Inteligência Artificial para identificar padrões, prever riscos e sugerir ajustes em tempo real, otimizando a gestão de carbono e outros indicadores ambientais. Essas tecnologias permitem a integração de dados de diferentes setores e cadeias produtivas, gerando insights que ajudam as organizações a aprimorar sua performance e fortalecer sua resiliência frente aos desafios climáticos e regulatórios. Ademais, novas ferramentas tecnológicas estão revolucionando a forma como os relatórios de sustentabilidade são elaborados e divulgados. Soluções baseadas em blockchain, por exemplo, oferecem maior transparência e segurança na rastreabilidade das informações, garantindo a confiabilidade dos dados reportados e facilitando a auditoria por partes interessadas. Paralelamente, plataformas interativas e dashboards em tempo real permitem que empresas acompanhem seus indicadores de sustentabilidade de forma dinâmica, tornando a gestão ambiental mais proativa e menos reativa. No entanto, não basta apenas digitalizar os processos de relato. Para que a tecnologia agregue valor à estratégia empresarial, é essencial que haja capacitação das equipes envolvidas e um comprometimento com a melhoria contínua. O Quebra-Cabeças da Sustentabilidade Continue lendo esse artigo em: petroleoegas/o-quebra-cabecas-dasustentabilidade
NOSSA ENERGIA VEM DA NATUREZA E VAI PARA O FUTURO Nossa energia vem da água, do vento e do sol porque está sempre conectada com o futuro. Com 97% de geração limpa, temos o compromisso de contribuir para a transição energética investindo em soluções inovadoras que apoiam nossos clientes. Afinal, a energia para construir um futuro mais sustentável não para.
30 Brasil Energia, nº 491, 25 de fevereiro de 2025 política pública As novas investidas da Petrobras de estímulo à indústria naval... Transpetro planeja construir 25 navios e a Petrobras dá mais um passo para fazer o retrofit de plataformas, ao invés da desmobilização programada | POR FERNANDA NUNES | O presidente Lula aproveitou um só evento em Angra dos Reis (RJ), em fevereiro, para lançar duas iniciativas do governo e da Petrobras. Uma delas marca a entrada da Transpetro, subsidiária de logística da estatal, no negócio de amônia. A empresa tem reforçado a intenção de retomar presença no mercado de fertilizantes, que utiliza o produto como insumo, e também de se aproximar do setor agrícola. Lula anunciou ao mercado o segundo edital de licitação do Programa de Renovação e Ampliação da Frota do Sistema Petrobras (TP 25), para a aquisição de oito Gaseiro Barbosa Lima Sobrinho: frota de navios gaseiros da Transpetro vai passar de seis para 14 unidades Foto: Divulgação/Transpetro
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