e-revista Brasil Energia 492

Brasil Energia, nº 492, 28 de março de 2025 107 No escopo da McKinsey estão opções como fundos climáticos, debêntures incentivadas, acordos de offtake (contratos de longo prazo com garantia para comprador e vendedor) e títulos verdes. Também faz parte da lista o project finance tradicional, bastante conhecido da indústria de infraestrutura. No caso do Brasil, não faltam opções, segundo dois especialistas no tema ouvidos pela Brasil Energia. Para Luiz Paulo Pereira Assis, sócio da Deloitte, a discussão sobre financiamento sustentável – verde ou temático, outros dois nomes para o mesmo assunto – deve partir da avaliação de maturidade das tecnologias. “Quando se fala de energia eólica e solar, por exemplo, temos uma visão muito clara do mercado, de quais são os riscos de execução e de comercialização. Com isso, tanto o investidor quanto o financiador têm melhor percepção de risco”, argumenta. “Isso faz com que tenhamos mais instrumentos de financiamento”, cenário que estimula a entrada mais maciça de bancos privados e maior aporte de crédito. Diferentemente dos empreendimentos solares e eólicos – e ainda mais de projetos tradicionais como hidrelétricas – as iniciativas que envolvem hidrogênio verde trazem incertezas que afastam uma boa parte dos financiadores do jogo. Os riscos de crédito, de mercado e de liquidez tendem a pressionar mais os custos de capital de tecnologias incipientes e podem inviabilizar projetos. A solução é mitigá-los. Na avaliação de Assis, os contratos de offtake podem ser um caminho, permitindo que empreendimentos de hidrogênio verde nasçam com um executor que já tem acordos de venda da energia verde em contratos de longo prazo, reduzindo a percepção de riscos pelos financiadores. Ficam na mesa “apenas” os riscos regulatórios e os macroeconômicos. Com relação ao primeiro, a boa notícia são as iniciativas do governo federal de criar marcos regulatórios que trazem mais segurança ao investidor, caso do hidrogênio e dos biocombustíveis. Produzir hidrogênio verde no Nordeste, aproveitando a energia renovável eólica, é visto como um mitigador de risco, por ser uma produção local e sinérgica. Outro modelo, por sua vez, pode ter impacto ainda maior. Trata-se do blended finance, no qual várias camadas de financiamento são combinadas e ajudam a reduzir os riscos e atrair o crédito privado. Nesse tipo de instrumento, entram os bancos multilaterais de desenvolvimento, com taxas subsidiadas, o que atrai investidores e financiadores que, por sua vez, assumem os riscos com o retorno a que estão acostumados. A equação é simples: o financiamento subsidiado incentiva o aporte de capital privado, que é mediado pelas instituições financeiras privadas. No processo, a participação pública ou de bancos multilaterais, vai sendo diluída. O Eco Invest Brasil, lançado em outubro do ano passado pelo Tesouro Nacional, é um desses mecanismos, tendo o blended finance como uma das quatro linhas de crédito. O primeiro leilão do Tesouro, nessa configuração, finalizado em outubro, disponibilizou R$ 6,8 bilhões, o

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