12 Brasil Energia, nº 492, 28 de março de 2025 entrevista Manuela Kayath E nas unidades em operação, alguma expansão prevista? Em Fortaleza, a produção aumentou um pouco e hoje está em torno de 90 mil m3/dia. A operação é bem estável. Mas o desafio agora lá é desenvolver outros produtos que não o biometano, porque temos uma corrente de CO2 biogênico, de cerca de 100 toneladas por dia, que tem um apelo interessante para os combustíveis sintéticos do futuro, seja para amônia verde ou o próprio SAF. Estamos negociando com três players, todos estrangeiros, que pretendem produzir os combustíveis sintéticos no Brasil para exportação. E no Rio, no aterro Dois Arcos, e em Caieiras, em São Paulo? No Dois Arcos (São Pedro da Aldeia, RJ), nossa primeira planta, relativamente pequena, foi autorizada em janeiro pela ANP para aumentar a produção de 15 mil m3/dia para 18,4 mil m3/dia de biometano. Antigamente a geração (comprimida e entregue por caminhão) era só para uso veicular como GNV renovável, mas hoje dois terços da produção são para uso industrial por meio de contrato com a Ultragaz para distribuição do biometano comprimido. Em Caieiras, no aterro da Solví, a unidade com produção de 68 mil m3/dia também tem contrato de longo prazo com a Ultragaz para entrega do biometano para clientes industriais. No aterro de Caieiras, não há planos de expansão com a Solví? O potencial lá é muito grande, já que ele recebe metade do lixo de São Paulo, cerca de 11 mil t/dia. Se fosse desativar as térmicas que estão em operação lá, seria possível fornecer 300 mil m3/dia e termos a maior planta do mundo. Mas obviamente isso seria uma decisão da Solví. Como a senhora vê a solução do WTE (waste to energy), com usinas térmicas que usam a incineração direta dos resíduos sólidos urbanos, como a que terá em Barueri (SP) e que já tem outros projetos até licenciados? A verdade é que no Brasil é muito difícil viabilizar. Não faz sentido com os preços de energia que a gente tem hoje ter uma incineração, principalmente quando há a possibilidade de ter essa valorização energética a partir do biogás de aterro em um país que ainda tem tanto lixão. Pode ser viável em países desenvolvidos, quando não há mais espaço para aterros. Mas no Brasil ainda não é o caso. Precisamos converter para aterro para mitigar a emissão enorme de metano que tem no país, onde mais de 40% do lixo segue indo para lixão, que é o grande emissor. Até porque o Brasil faz parte do Pacto Global de Redução de Metano e em um aterro sanitário bem gerido, com sistema de captação de biogás eficiente, é possível destruir mais de 90% no metano que iria para a atmosfera. Então isso é o que faz sentido. Por quanto tempo depois de um aterro ser fechado ainda dá para produzir biometano? Sem receber novos resíduos, um aterro ainda pode produzir biogás por cerca de 15 anos, sempre de forma decrescente. Para produzir biometano, no entanto, esse tempo é ligeiramente menor, pois o teor de metano vai diminuindo, o que torna inviável o seu aproveitamento para este fim. n
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