Brasil Energia, nº 492, 28 de março de 2025 13 Bruna de Souza Moraes Bruna de Souza Moraes é pesquisadora e coordenadora do Nipe/Unicamp, engenheira de Alimentos, mestre e doutora em Ciências da Engenharia. Escreve na Brasil Energia a cada três meses. As projeções futuras para a produção de biometano no Brasil são bastante animadoras. Segundo a presidente-executiva da Abiogás, se todos os projetos anunciados por empresas no último ano se concretizarem, o setor de biometano pode esperar um crescimento de 600% até 2029, alcançando uma produção diária de 7 milhões de m3. Mais da metade dos empreendimentos voltados à comercialização do gás terão origem nos resíduos de saneamento, sendo os aterros sanitários a fonte principal. O Estado do Rio de Janeiro desponta como líder na produção do país, possuindo a maior planta de biometano a partir de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) da América Latina: o aterro sanitário de Seropédica, com capacidade de produção diária de mais de 200 mil m3. Além da grande disponibilidade de resíduos orgânicos, a infraestrutura desenvolvida para a distribuição de gás natural no estado facilita a integração do biometano na matriz energética local. A proximidade com centros industriais e urbanos também garante um mercado consumidor significativo e estável para o gás produzido. E a previsibilidade desse biocombustível frente ao seu similar fóssil – o gás natural, que sofre variações de acordo com o preço do barril de petróleo – é um grande estímulo para as empresas entrarem neste negócio. Esses fatores combinados criam um ambiente propício para investimentos e ampliação da produção de biometano naquele estado. Embora possa ser até 30% mais caro que o gás natural, o biometano vem tendo um cenário favorável para expansão, especialmente em função das metas de descarbonização, que podem representar custos adicionais para as empresas. Com este biocombustível, a pegada de carbono pode ser reduzida dentro do custo já previsto para a produção, tornando-se uma solução mais atrativa economicamente que outras alternativas. Esse é o cenário promissor para os grandes geradores. Mas e os pequenos geradores? Estes podem compreender shopping centers, restaurantes, escolas, indústrias alimentícias, entre outros, que tenham volumes de resíduos orgânicos constantes e separados na fonte, o que melhora sobremaneira a eficiência do processo de produção de biometano. Nestes casos, o modelo de negócio é diferente dos grandes geradores, sendo uma solução descentralizada, na qual os pequenos geradores têm a possibilidade de adotar modelos flexíveis, considerando os usos e a distribuição local. Este fato permite seu desenvolvimento em áreas sem infraestrutura de gás natural, com potencial redução dos custos logísticos e ampliação do acesso a fontes de energia limpa. Além de fortalecer as economias locais, um dos maiores ganhos estaria na conscientização da sociedade por meio da demonstração prática mais prontamente acessível da gestão sustentável de RSU quando comparada aos aterros sanitários, que normalmente se situam fora dos centros urbanos. Um exemplo a ser citado no Brasil é o Programa Cozinha Solidária Sustentável – lançado pelo Governo Federal ao final de 2023 e regulamentado em 2024, com apoio da Itaipu Binacional e da Abiogás – que busca transformar resíduos orgânicos em biogás e insumos para adubo. A ação piloto prevê a instalação de biodigestores em sete cozinhas solidárias no país, visando promover o acesso universal a fontes de energia limpas para cocção de alimentos: neste caso, o biogás produzido seria utilizado localmente em substituição ao GLP. O biometano e a versatilidade de sua produção a partir de Resíduos Sólidos Urbanos Continue lendo esse artigo em: energia/o-biometano-e-a-versatilidade-deproducao-a-partir-de-rsu
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