e-revista Brasil Energia 492

44 Brasil Energia, nº 492, 28 de março de 2025 entrevista José Formigli na História uma substituição absoluta, em um curto prazo, de uma fonte de energia por outra. O que houve foi uma adição. Há toda emergência em relação às mudanças climáticas. Mas a gente tem que ser bastante pragmático e lembrar que o petróleo vai viabilizar economicamente as soluções energéticas alternativas. Não podemos ter vergonha de dizer do que o petróleo é capaz de prover em termos de desafios técnicos. Do ponto de vista operacional, qual o grande desafio da Engenharia, hoje, considerando que as dificuldades no pré-sal já foram superadas? Sobre o pré-sal, diria que não há mais dúvida de que, tendo uma descoberta, é possível implantar um projeto de uma forma economicamente atraente. Mas o que a gente não pode esquecer é que o pré-sal vai passar por desafios similares aos da Bacia de Campos. Lá, à medida que os campos ficavam mais maduros, era produzida mais água. Alguns problemas vão ser bem parecidos com os da Bacia de Campos. Outros, mais complexos, por causa da presença do CO2. Vai haver também uma fase, agora, de correr atrás de óleo (no pré-sal), de aumentar o fator de recuperação. Isso tudo num cenário mais apertado em relação à oferta e demanda, em que os custos crescem bastante. Mas esse é um problema ótimo de resolver. Muito melhor resolver isso do que ter um mercado com preços baixos de insumo associados a preços baixos do brent. Nesse cenário, vejo espaço para a manutenção do esforço de qualificação profissional e de retenção dos profissionais. Existe alguma limitação em aumentar o fator de recuperação dos campos maduros do pré-sal? Não. Aumentar o fator de recuperação vai exigir a perfuração de mais poços. Para isso, vão ser necessários novos ciclos de sísmica 4D, para buscar as melhores locações. O que vai acontecer é que, à semelhança do que acontece nos campos maduros da Bacia de Campos, vai ser produzido mais água e, provavelmente, a vazão de óleo vai ser menor do que a dos poços originais. Esse é o desafio. É claro que, nesse caso, não há o ônus de carregar o capex de uma plataforma, que já foi amortizada no primeiro ciclo de poços. Os poços adicionais têm um capex próprio. Estar preparado para conviver com essa realidade e fazer com que o fator de recuperação projetado seja de 35%, ou até mais, exige a aplicação de muita tecnologia. Além disso, uma das competências que vai ser importante é a capacidade de negociação da Petrobras com os sócios. Isso vale para qualquer operadora. Às vezes, a gente pensa que, por ser chamada ciência exata, a Engenharia conduz a uma solução única. Mas a indústria de óleo e gás atua com probabilidade. Quando há sócios, há uma grande necessidade de diálogo. Isso acontece no pré-sal. Essa habilidade vai ser ainda mais demandada do que hoje, quando os riscos percebidos forem maiores. Fazer acontecer num ambiente com múltiplos atores não é simples. n

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