Brasil Energia, nº 492, 28 de março de 2025 53 Edmar de Almeida é economista, professor e pesquisador do Instituto de Energia da PUC-Rio. Escreve na Brasil Energia a cada quatro meses. Edmar de Almeida Desde 2020, o mundo parecia caminhar para um consenso sobre a necessidade de promover e acelerar a transição energética. Este consenso se materializou na forma de alinhamento de países e empresas em torno das metas de emissões líquidas zero em 2050. A consolidação da percepção de que o mundo vive uma emergência climática empurrou os principais emissores do mundo em direção a compromissos de redução das emissões. A partir destes compromissos, muitos países começaram a implementar políticas para incentivar fontes renováveis de energia e precificar as emissões de carbono através da introdução de mercados regulados de carbono. Dos 185 países que submeteram compromissos de redução de emissões (Nationally Determined Contributions - NDCs) no Acordo de Paris, 96 já implementaram ou têm iniciativas para implementar mercados de carbono. Em 2024, iniciou-se um processo de revisão das políticas e estratégias de transição energética. Por um lado, várias empresas de petróleo reduziram suas ambições de investimento nas fontes renováveis de energia, em função da baixa rentabilidade dos projetos. Por outro lado, a eleição de Donald Trump nos EUA trouxe uma revisão radical da política norte americana de promoção da descarbonização da economia. Estes dois movimentos representam um choque de realidade para as políticas de promoção da transição energética. Até 2024, vigorou uma visão um pouco romântica da transição energética: a ideia dominante era de que a transição energética não apenas era algo fundamental para garantir a sustentabilidade ambiental, mas também algo bom para a economia e acessível para todos os países. Entretanto, estamos aprendendo na prática que não é bem assim que funciona a economia da transição energética. Nesta economia, a descarbonização é o produto. Este produto tem custos e preço. Quem quiser adquirir o produto tem que pagar por ele. Além disto, a produção deste produto acontece em escala global e sob regime de competição. Portanto, as empresas mais competitivas na oferta de produtos para descarbonização tendem a ter vantagens competitivas neste mercado. Apesar da descarbonização da economia ser uma necessidade para todos os países, estamos começando a ver na prática que os custos e os benefícios da descarbonização não são iguais para todos. Quanto aos custos, alguns países, tais como o Brasil, têm grandes vantagens para produzir energia renovável em função da sua dotação de recursos naturais como terra e água para produção de biocombustíveis e energia solar e vento para produção de energia eólica. Nestes países, é possível avançar na produção de energia renovável, com custos relativamente baixos e sem a necessidade de grandes subsídios. Porém, em outros países, o custo da produção de energias renováveis é elevado e precisa de muitos subsídios para se materializar. Diversos países implementaram esquemas de subsídios diretos para apoiar energias renováveis, veículos de baixa emissão, baterias, hidrogênio e outras tecnologias limpas. Exemplos incluem a Lei de Redução da Inflação (IRA) nos Estados Unidos, o Fundo de Crescimento do Canadá, o Acordo Verde Europeu na União Europeia, o Esquema de Incentivo à Produção na Índia e a Lei de Promoção da Segurança Econômica no Japão. Desde 2020, os governos anunciaram cerca de USD 2 trilhões em apoio financeiro específico para investimentos em energia limpa. A Geoconomia da Transição Energética Continue lendo esse artigo em: petroleoegas/a-geoconomia-da-transicaoenergetica
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