Brasil Energia, nº 492, 28 de março de 2025 91 Claudia Bethlem é bióloga com 20 anos de experiência em biodiversidade e sustentabilidade. É consultora na Descarbonize e In Carbon. Escreve na Brasil Energia mensalmente. Claudia Bethlem Quando pensamos em eventos sustentáveis, é essencial ir além da neutralização de carbono e considerar estratégias mais amplas, incorporando metas claras e resultados mensuráveis. Para que esse impacto seja positivo, precisamos incluir no cálculo das emissões o escopo 3, que engloba as emissões indiretas, como o transporte do público visitante além do expositor, painelistas convidados e produção, especialmente o transporte aéreo, além das emissões dos fornecedores na montagem e desmontagem do evento. Nelson Mandela dizia que “Sport has the power to change the world” e eventos esportivos são exemplos poderosos dessa transformação. O Rio Open, do qual participo há seis anos, por exemplo, tem avançado na adoção de práticas sustentáveis, como a gestão eficiente de resíduos e a redução e compensação de emissões. Existe um estande de descarbonização e o público demonstra sempre estar disposto a apoiar. Mas a evolução é continua e sempre há espaço para reduzir nossa pegada. Quando falamos em eventos sustentáveis, precisamos abordar quatro grandes eixos ambientais: emissões, resíduos, água e biodiversidade. Além disso, há aspectos sociais fundamentais, como diversidade, acessibilidade e inclusão. Um evento verdadeiramente sustentável deve seguir uma rota estruturada que contemple: • Redução e compensação da pegada de carbono residual, incluindo o escopo 3 e estratégias eficazes para minimizar emissões ao longo de toda a cadeia do evento; • Eliminação de resíduos aterrados, promovendo a circularidade e a reutilização de materiais; • Infraestrutura sustentável, incentivando que as instalações (venues) contem com captação de água da chuva para usos não potáveis, como irrigação e limpeza; • Uso de energia renovável, adotando iluminação e outras demandas energéticas com fontes limpas. A inclusão do escopo 3 é um passo crucial para a transparência e credibilidade na contabilidade de emissões. Ignorar esse fator pode significar subestimar o real impacto ambiental do evento. O transporte do público, por exemplo, representa cerca de 80% das emissões associadas a eventos. Refinar esse cálculo com coleta de dados reais e voluntários é fundamental para compreender o impacto exato e implementar estratégias de mitigação mais eficazes, como incentivos ao transporte coletivo, bicicletas e caronas compartilhadas. Além da redução de impactos, eventos sustentáveis têm um papel essencial no engajamento do público. Mesmo eventos pequenos podem inspirar mudanças significativas ao promover ações interativas e experiências imersivas. Algumas estratégias que podem ser adotadas incluem: • Estandes interativos, que explicam de forma lúdica as ações sustentáveis do evento; • Ilhas verdes, espaços de descanso e aprendizado com vegetação nativa e sinalização educativa; • Brindes sustentáveis, que incentivam práticas responsáveis e são altamente valorizados pelo público, como copos reutilizáveis, sementes para plantio e produtos feitos com materiais reciclados; • Gamificação, com desafios e recompensas para estimular comportamentos sustentáveis, como descarte correto de resíduos ou uso de transporte sustentável. Metas claras são essenciais para o sucesso de qualquer estratégia sustentável. Alguns eventos já avançam nesse sentido, estabelecendo compromissos para reduzir emissões, otimizar o uso de recursos e investir em compensações confiáveis. Além disso, a mensuração e divulgação de resultados são passos fundamentais para garantir transparência e aprendizado contínuo. Eventos, se atraem gente, tem que ter ESG Continue lendo esse artigo em: energia/eventos-se-atraem-gente-temque-ter-esg
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